Lais Fontenelle

Tema(s): Infância

A escolha de Sofia

A difícil tarefa de escolher a escola de nossos filhos.

Atualmente, desde antes de nossos filhos nascerem, somos obrigados a decidir coisas não só pequenas como grandes e importantes sobre suas vidas. Nunca me esqueço dos últimos meses de gestação – carregando aquela bela barriga – quando, além de escolher a cor do quarto, os objetos que iriam adornar aquele ninho e lembrar de todos os itens do enxoval ainda tínhamos que fazer a escolha certa sobre a maternidade mais humanizada, o tipo de parto menos sofrido e sobre o fato se gostaríamos de coletar células tronco de nosso bebê na hora do nascimento para que, caso, no futuro, algum infortúnio acontecesse, estivéssemos protegidos. E você achou que as escolhas iam parar por ai? Engano seu. Elas estavam só começando…

Todos os dias depois que nossos rebentos chegam nesse mundão somos obrigados a decidir sobre suas vidas e isso sem dúvida cansa e angústia. Optar por pediatra tradicional ou Homeopata? Devemos oferecer chupeta? Deixamos o bebê dormir a noite toda ou acordamos para amamentar? Qual o momento certo de colocar na cama? E a hora ideal de desmamar e desfraldar? Colocar ou não rede nas janelas? Dar o remédio para febre somente acima dos 38°? Babá ou creche? Nossa! São muitas as questões que somos obrigadas a pensar num curto espaço de tempo e o pior é que essa difícil tarefa para mães e pais, principalmente de primeira viagem, nunca vem sem culpa. Mas, o mais louco é perceber, aos poucos, que damos conta de tudo e decidimos um caminho a escolher sempre pensando no bem estar dos nossos pequenos. Erros acontecem, graças a Deus, e servem para o amadurecimento de nossos filhos. Ufa!

Nessas próximas semanas imagino que muitas mães e pais devem estar passando, como eu, por mais uma difícil escolha a ser feita. A da escola “supostamente ideal” para nossas crianças. O que devemos priorizar? Espaço? Aquisição de uma segunda língua? Deslocamento? Higiene? Construtivista ou Waldorf? Uma escola para vida ou uma pequena perto de casa? Confesso que talvez essa tarefa seja uma das mais complexas e difíceis para mim, especialmente, por dois motivos: Primeiro porque sou da área e já trabalhei em muitas escolas vendo coisas belas e sujas e também porque será a primeira vez que minha pequena irá frequentar um espaço de socialização -diferente da família e dos amigos- já que tive o privilégio de ter horários flexíveis de trabalho nos dois primeiros anos de vida dela podendo acompanhar bem de perto sua rotina e conquistas diárias.

Síndrome do ninho vazio. Angústia de separação diriam algumas amigas da área de Psicologia, mas muito mais do que isso acho que minha dificuldade na escolha da escola passa pelo fato que, mesmo depois de tantas transformações importantes no mundo de hoje que se refletem na infância, a maioria das escolas parece ter parado no tempo se mantendo congelada em prioridades focadas num futuro promissor para os pequenos, mas que deixam de lado o mais importante de ser vivenciado no espaço escolar: Trocas afetivas e sociais. As escolas têm nos dias de hoje funcionando como empresas e passado valores mais materialistas do que humanos. A criança precisa brincar. Para se socializar, para elaborar conflitos, para se colocar desafios e para exercitar sua liberdade e criatividade, portanto, se você deseja que seu filho tenha um brilhante futuro dentro de uma multinacional pense que essas habilidades são adquiridas e exercitadas pelo brincar.

Não sinta-se só achando que as dúvidas são somente suas. Tenho certeza que todos os pais já passaram por isso e por mais que a troca de experiências seja importante a escolha da escola de nossos filhos é algo pessoal e intransferível e que merece cuidado e atenção. E mais do que isso diria que para essa escolha é preciso coragem, ou seja, uma ação que parta do coração. Temos que entrar naquele espaço que deixaremos nosso mais precioso bem e nos sentir seguros e acolhidos porque no fundo a escolha da escola passa por nós. Nossos filhos só vão se adaptar e ser felizes nesse novo espaço se estivermos confiantes na escolha feita.

Então… Firmeza nessa escolha que deve priorizar os valores e princípios que essa escola vai passar para as crianças, seres ainda em formação e com os poros abertos para aprendizagem. Escola é um espaço de formação para cidadania. É nesse espaço que nossos filhos vão experimentar, pela primeira vez, regras de convivência comunitária, a compartilhar, a se inscrever no mundo, a trocar experiências e a ser empático e solidário, portanto, além de pensar em segurança, higiene, deslocamento, alimentação e afins- que não deixam de ser coisas importantes- pense nos valores que essa escola vai semear em nossos pequenos porque esses marcam uma vida. E tenha certeza que a escolha feita será a melhor para seu filho porque ele vai precisar desse sentimento. Agora segura o coração e vamos às matrículas. Boa sorte à tod@s nós!

Texto originalmente publicado em Infância de Clarice.