COVID 19, Quarentena e os desafios da parentalidade: Sobre a importância da empatia e do afeto em tempos de crise.
Em tempos de urgência, previsibilidade, consumo e conexão fomos convocados a parar, nos recolher e, acima de tudo, refletir sobre o impacto de nossas ações individuais no coletivo. Pediu-se pausa para uma sociedade baseada na produtividade e na ideia de que tempo é dinheiro e que se acostumou a ter serviços 24 horas por dia. Fomos incentivados a nos afastar uns dos outros, do trabalho, das escolas e até dos mais velhos por decretos do governo ou orientações de órgãos de saúde. E a partir de algumas imposições somadas às informações fomos entendendo que só sairemos desse momento de crise global através da solidariedade, do cuidado com o outro e da força da comunidade.
Esse novo vírus, que se alastra quase na velocidade da luz, está tendo um impacto não só na saúde, mas na economia, no trabalho, nas relações e acima de tudo em nossas subjetividades. Em tempos de globalização começamos a entender na pele o real significado dessa palavra. Assistimos as recentes notícias da China, da Itália sem acreditar, verdadeiramente, que esse tsunami atingiria nossas terras tropicais. Mas, o mundo é um só e por isso a importância de pensarmos em co-responsabilidade e respeito. Coronavírus por aqui aterrissou. É fato que nunca estamos preparados para uma crise, mas sem dúvida, são nesses momentos que mais crescemos e aprendemos como indivíduos e sociedade, já que somos compelidos a revisitar crenças e valores; a deixar nosso egoísmo e hedonismo de lado em nome do bem comum.
Ao longo dessas semanas temos tido notícias tristes, além de estamos imersos numa atmosfera de incerteza que gera medo, claro, mas, concomitantemente vizinhos mais jovens têm tocado a campainha de idosos perguntando se eles precisam de ajuda no mercado. A empatia parece ser quem está no comando. A criatividade humana tem sido explorada em toda sua potência na busca por soluções coletivas e o mais interessante de se ver é como a tecnologia, muitas vezes tida como vilã do afastamento social, tem conectado pessoas, informado a sociedade e contribuído para educação. De fato esses têm sido tempos de quebra de verdades e mudança de paradigmas.
O grande pensador italiano Domenico de Masi, conhecido, mundialmente, por sua teoria do ócio criativo escreveu ao jornal O Globo neste primeiro final de semana de quarentena relatando um pouco sobre a onda que envolveu a Itália, nesse período de isolamento forçado, e nos contou que todo o país parece estar redescobrindo suas prioridades aliadas a suavidade do tempo. Curioso se debruçar sobre um artigo a respeito de afastamento social, daquele que em outros tempos escreveu sobre a potência do ócio. Ao final do artigo ele exalta que o afeto humano seguirá sendo a única salvação. Tendo a concordar com ele. Podemos passar por esse período de crise só lamentando os impactos negativos da Pandemia, que, sem dúvida, serão imensos ou podemos nos abrir para as coisas interessantes que podem acontecer. Dito isto por quê não aproveitar para priorizarmos o que realmente importa como colocou Domenico sobre o povo Italiano. Entendamos que o trabalho pode ser remoto, muitas vezes, que podemos nos organizar para cuidar de nossos filhos (sem delegar todas as tarefas a uma ajudante, que no momento, também precisa se preservar) e que pausar é preciso muitas vezes. Uma nova conexão urge.
Convido as famílias, principalmente, a estarem mais conectadas com as crianças e adolescentes, conversando, esclarecendo dúvidas que vão existir e os ajudando na organização dos estudos virtualmente. Manter a rotina de sono é fundamental e estruturante, assim como uma boa alimentação tanto para saúde física quanto mental. Sairemos desse momento de resguardo mais fortes e unidos. Humanidade, Solidariedade e Empatia são palavras de ordem.
Texto originalmente publicado em Medium.