Divertidamente 2: Como lidar com as novas emoções quando o botão puberdade entra em cena?
Passada quase uma década desde o sucesso de lançamento do filme
Divertidamente da Pixar, que levou a estatueta em 2016, finalmente chegou o
número 2 do longa colocando as emoções intrínsecas da puberdade em foco na
telona. Reily Andersen, protagonista do filme que conquistou corações de diferentes
gerações, retorna ao centro da cena, dois anos mais velha e com novas emoções
no comando, nos fazendo entender um pouco mais sobre os desafios da
adolescência – fase ainda pouco debatida, investida e até mesmo retratada inclusive
por especialistas.
Tive a chance de assistir ao filme no último domingo, numa sessão de
comemoração do aniversário de 13 anos do melhor amigo da minha filha. Claro, lá
estava ela escondida na última fileira, pois minha simples presença como mãe poderia
acionar a vergonha, novo sentimento que se esconde em um moletom com capuz na
sala de comando das emoções do filme.
Sabemos que a puberdade, vulgarmente conhecida como adolescência, é uma
fase de transição entre a infância e a idade adulta, circunscrita pela OMS entre 10 e 19
anos, que transforma os corpos, as mentes e, principalmente, as emoções desses
sujeitos dada à avalanche hormonal que experimentam. A labilidade emocional vivida
pela falta de maturidade do córtex pré-frontal, parte do cérebro responsável pela
regulação e organização das nossas emoções traz muitos desafios não somente para os
adolescentes, mas principalmente para as famílias que precisam sair um pouco do
centro cedendo espaço ao grupo de amigos, que os ajudarão na integração final de sua
identidade e no sentimento de pertencimento tão importante nessa fase.
Quando o botão vermelho da puberdade dispara no filme como alerta de perigo
a tristeza, o medo, a raiva, o nojo e a alegria da infância entram em conflito por espaço
com o tédio, a inveja, a vergonha e, principalmente, a ansiedade, que rouba o controle
assumindo lugar central nas emoções, não somente da protagonista, mas de toda uma
geração. Um argumento, aliás, muito bem colocado no já bestseller “Geração Ansiosa”,
do psicólogo social Jonathan Haidt, que chega às prateleiras brasileiras em breve
nos convocando a uma reflexão urgente.
Divertidamente 2 faz com que toda a geração Alpha, que tem a tecnologia no
centro de sua formação subjetiva, se identifique e vibre com o enredo e torça
vigorosamente para que ansiedade saia do comando, fato explícito na plateia.
Porém, aos meus olhos, o filme deixa de fora um elemento central que são as telas
que mediam as relações ininterruptamente e são molas propulsoras na
desregulação das emoções, como observo diariamente no consultório e no chão
das escolas.O tédio do filme até navega por aplicativos com seu celular nas mãos, mas
pouco se problematiza sobre o efeito, nefasto, do uso exacerbado das redes sociais
para a saúde mental dos adolescentes, potencializado pelo trauma de uma recente
pandemia vivida em quadrados. O vício nas telas ficou de fora da sala.
De toda forma, o filme vale o ingresso para nos relembrar que a conexão e a validação dos sentimentos desses sujeitos mutantes,
ainda é a receita mais bem sucedida de ajudá-los a lidar com o turbilhão de novas
emoções que nos constituem como indivíduos que sentem. Desliguem os celulares
e corram para a sala escura!