Educação em tempos de Quarentena
28 de Abril, dia mundial da Educação celebra 20 anos. O que comemorar nestes tempos?
Hoje, 28 de Abril, comemora-se o dia Mundial da Educação que neste ano, mais do que nunca, merece ser celebrado. A data foi instituída há 20 anos, por líderes de 164 países (incluindo o Brasil) na cidade de Dakar (no Senegal), durante o Fórum Mundial de Educação simbolizando o acordo dessas nações com o desenvolvimento da educação até 2030. O compromisso firmado visava, acima de tudo, incentivar a construção de uma sociedade mais justa e saudável, por meio da educação e participação da família.Curioso pensar que a data que está há 10 anos de completar os compromissos firmados vive um momento, talvez, único na educação mundial quando mais de 850 milhões de crianças e adolescentes estão sem acesso presencial às escolas- devido à pandemia do novo Coronavírus.
Escolas e Universidades de mais de 102 países fecharam suas portas, em Março de 2020, para tentar combater o avanço da contaminação. No Brasil são mais de 130 mil escolas fechadas com cerca de 47 milhões de alunos em casa. Ainda sem data para reabertura das escolas, em nosso país, o futuro da educação tem gerado acalorados debates entre especialistas trazendo um cenário ainda incerto. Faz um mês que o ensino à distância entrou nas casas, daqueles que têm acesso à internet, escancarando as dificuldades do processo de aprendizagem e as desigualdades sociais de nosso país. A educação foi convocada a se reinventar num curtíssimo espaço de tempo, sem que conseguíssemos formar os educadores para o novo formato remoto ou apoiar as famílias para guiar seus filhos neste processo.
Como ensinar sem ser no chão da escola onde os encontros e conflitos que ali se desenrolam, tão importantes para formação do exercício cívico, não existem mais? Nossos professores estão sendo bravos guerreiros neste momento. Aprendendo novas ferramentas, se lançando em desafios digitais e inaugurando uma nova forma de ensinar e aprender, mas acima de tudo de se relacionar com seus alunos. A escola, lugar de encontro, afeto e conflito mostrou seu valor social na formação para exercício da cidadania, assim como nossos docentes- que hoje tem tido seu quixotesco trabalho diário, finalmente, reconhecido em larga escala e não só pelas famílias.
Quando as escolas reabrirem seus portões o que entendemos como espaço escolar será, sem dúvida, diferente- pelo menos até passar a Pandemia. Carga horária, conteúdos, avaliações, calendário, número de alunos em circulação pelos espaços serão revistos, assim como os objetivos de aprendizagem. O uso de máscaras será obrigatório? O ensino híbrido é a solução consensual? Haverá recreios? Não temos ainda todas as respostas, mas só a garantia que o retorno não será como de longas férias. Nunca. Nossas crianças e adolescentes experimentaram um isolamento social (nunca antes vivido) que produziu memórias, mas também traumas. E precisaremos cuidar disto. A comunidade escolar deverá estar unida e focada em como apoiar lacunas de aprendizagens, além de pronta para centrar seus esforços no suporte socioemocional. Os conteúdos afetivos serão tão ou mais importantes quanto os matemáticos, físicos ou linguísticos.
O papel da escola e do educador será mais do que nunca, como já postulou minha mestra Monique Augras, o de reencantamento do mundo. Precisaremos preparar as crianças e adolescentes da quarentena de 2020 para que transformem a experiência vivida e aprendida em suas casas em valores para uma vida mais humana e sustentável. A educação é chave para transformação, além de um direito universal. Que esta data nos faça refletir sobre sua importância para a construção de um mundo mais ético e solidário.
Texto originalmente publicado em Medium.