Janeiro Branco
Considerações sobre saúde mental num mundo em pandemia
A maioria da população veste branco no dia 01.01 na esperança de que o ano que se inaugura seja de paz. Mas, desde 2014 Janeiro foi batizado de branco pela campanha nacional de conscientização sobre saúde mental criada com a intenção não só de conscientizar, mas desmistificar temas relacionados à saúde mental. É, também, em janeiro que a maioria das pessoas faz planos de mudança para os novos 365 dias numa folha em branco – por isso, a escolha da cor para a campanha. E hoje, mais do que nunca, devido ao impacto da pandemia da Covid 19 na vida de toda população mundial, não só falar, mas cuidar da saúde mental se tornou imperativo. Manter o equilíbrio emocional é um dos maiores desafios globais.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que a Depressão será a doença mais comum do mundo até 2030 já ocupando hoje a segunda causa mais frequente de perda de dias de trabalho segundo a mesma instituição. Na sequência vem a ansiedade, hoje considerada o segundo transtorno mental mais incapacitante do mundo (depois da Depressão). E mesmo com esses dados alarmantes o tema da saúde mental, apesar de ser um dos termos mais buscados no Google, segue sendo tabu fora da comunidade médica. Para muitos as doenças mentais ainda são entendidas como sinal de fraqueza, falta de força de vontade ou até incompetência numa sociedade regida pela performance. A “loucura” como ainda é vulgarmente chamada por muitos sofre preconceito pelo entendimento errado de que saúde física é dissociada da mental e isso tem graves consequências para aqueles cometidos pelas doenças mentais, pois temem buscar ajuda pela represália que podem sofrer.
Em 2022 entramos no terceiro ano de pandemia já com dados impactantes sobre a avassaladora contaminação mundial, neste primeiro mês, pela variante denominada Omicrôn e isso tem graves consequências não só nos planos de férias, mas na saúde mental da população que de alguma maneira ao reviver a quarentena aciona os traumas do longo isolamento vivido. Estamos todos muito cansados. O medo de adoecer ou de perder algum ente querido, a incerteza em relação ao final da pandemia, as questões econômicas sérias, o aumento do desemprego e da fome, longos períodos de isolamento social, estresse no trabalho, aumento de conflitos na família foram somente alguns fatores do cenário pandêmico que impactaram a saúde mental da população em geral. No Brasil dados coletados numa pesquisa sobre saúde mental na pandemia realizada pelo Ministério da Saúde mostraram uma elevação na ansiedade na população (86,5%), seguida por eventos de estresse pós-traumático (45,5%) e, por fim, quadros depressivos graves (16%).
Por isso, volto a afirmar a importância de que profissionais de diferentes áreas (e não somente médicos, enfermeiros, terapeutas e psicólogos) estejam preparados para lidar com questões emocionais, principalmente os profissionais de educação pela atuação focada no equilíbrio sócio emocional do tripé aluno, professor e família. Não podemos esquecer do longo período que as crianças e adolescentes passaram longe do chão da escola e de seus pares num convívio forçado, intenso e estressante com seus familiares e do impacto que esse período teve no seu desenvolvimento não só acadêmico, mas emocional. E mesmo aquelas que tiveram a chance de voltar para a escola encontraram um cenário diferente do que estavam acostumadas e por demais restritivo pelos protocolos sanitários.
Em documento recente a OPAS ( Organização Panamericana de Saúde) aponta, também, o impacto da COVID-19 na saúde mental não só de crianças e adolescentes, mas de mulheres, pessoas com transtornos mentais pré-existentes, bem como trabalhadores da saúde e da linha de frente, além de pessoas com menor status socioeconômico. Esse cenário denuncia a urgência de falarmos e cuidarmos da saúde mental da população em geral, todos os dias. É preciso garantir acesso e continuidade de tratamento, além de diagnóstico preciso. É preciso falar sobre o tema. Ajudar aqueles que precisam de tratamento a buscar apoio. Desmistificar o tema e oferecer conteúdo de qualidade. A promoção da saúde mental e do bem estar pode ajudar e muito na construção de resiliência para que possamos atravessar mais um ano difícil de pandemia, sabendo lidar com situações adversas de uma maneira mais tranquila.
Deixo aqui algumas dicas simples para cuidarmos da saúde mental em tempos de pandemia:
- Mantenha bons hábitos alimentares e de sono.
- Converse sobre seus sentimentos com alguém de sua confiança.
- Procure ajuda especializada. Um médico local pode ser um bom começo.
- Pratique exercícios regularmente. Mexa o corpo como e quando puder!
- Mantenha contato com familiares e amigos.
- Proteja-se da comunicação tóxica. Filtre o que você vê e escuta.
- Meditação ou Mindfulness podem ajudar a acalmar a mente.
- Mantenha uma rede de apoio.
- Existem muitos locais que oferecem terapia presencial ou virtual a baixo custo ou gratuitamente. Procure no seu bairro.
- Faça atividades na natureza.
Lembre-se que não está sozinho. Só sairemos deste momento de crise coletivamente. Busque ajuda.