Por que se matam na adolescência?
A suposta superproteção experimentada por crianças e adolescentes, hoje, não os prepara para a pressão da vida
Setembro acabou e trouxe a estação que anuncia vida. Porém, desde 2015, ganhou o tom amarelo na campanha brasileira de prevenção ao suicídio, inclusive de adolescentes. Nós nascemos com uma única certeza: a da inexorabilidade da morte. Mas nunca paramos para pensar, senão seria impossível viver. Utopias fazem sublimar esse duro fato para seguir em frente, acreditando em um futuro melhor.
Na adolescência, se experimentam a puberdade e as muitas mudanças cerebrais, como a busca por novidade, o engajamento social, a intensidade emocional e a explosão criativa. O distanciamento das figuras parentais acontece para dar lugar à liberdade e à autonomia. É nessa fase de interdependência que os jovens mais precisam de acolhimento rumo à maturidade emocional. O difícil é dosar os limites com o espaço de experimentação em um mundo sem fronteiras e hiperconectado.
A geração atual vive contradições: a superproteção da família, a violência urbana e o desejo de que não sofra as frustrações inerentes à vida, mas é jogada no mundo em rede pautado em curtidas. O rastro digital é experimentado na fase de formação identitária sem que se deem conta. Em outros momentos, seria possível esquecer um fato negativo. Na vida digital, carrega-se aquele comentário para sempre.
O cenário se soma aos dados do Mapa da Violência no Brasil: entre 2000 e 2015, os suicídios aumentaram 65% dos 10 aos 14 anos e 45% dos 15 aos 19 anos. Quando adolescentes deletam suas vidas, eles deflagram algo sobre sua subjetividade, claro, mas também falam sobre a sociedade e o momento no qual estão inseridos.
Sob essa perspectiva, a árdua missão de se prevenir o suicídio é de todos. Especialmente porque a suposta superproteção experimentada por crianças e adolescentes, hoje, não os prepara para a pressão da vida e suas frustrações futuras. Façamos laços. Usemos as redes sociais como ferramenta de encontro com essa geração. Não nos deixemos sucumbir à urgência da sociedade da informação em detrimento da relação com nossos jovens. É preciso escuta e diálogo, sempre, mesmo quando setembro passar.
Texto originalmente publicado em O Globo 04/10/2018