Lais Fontenelle

Tema(s): Infância

Turma da Mônica – Lições

Sobre as dores e delícias do amadurecimento. Lições para todas as idades.

Acabo de sair do cinema com lágrimas nos olhos, junto com minha filha de 10 anos, embaladas pelas sonoras palmas da plateia depois de assistir a estreia do novo filme da Turma da Mônica – Lições, dirigido por Daniel Rezende. A experiência de retornar a sala escura, depois de 2 anos distante, já foi por si só emocionante. Mas, é inegável que o filme contribuiu e muito para esse sentimento, pois emociona mesmo aqueles que, assim como eu, não eram fãs dos gibis não somente pelo enredo muito bem construído, atuações impecáveis ou pela participação especial de Malu Mader e do próprio Mauricio de Souza com a verdadeira Mônica, sua filha. O longa traz à tona o tema da amizade e das dores do crescimento de forma singela e cuidadosa ao mostrar os desafios que cada membro da turma passa depois de transgredir uma regra da escola.

O plano “ infalível” de pular o muro da escola na tentativa de resolver uma lição vai por água abaixo e como consequência os amigos inseparáveis são convidados, não só pela escola, mas por seus pais a refletirem sobre o comportamento inadequado com sanções morais que os convidam a lidar com suas questões emocionais. Mas, para tanto, precisam se separar da Dona da Rua. Sim, Mônica é obrigada pelos pais a mudar de escola e ficar longe dos seus amigos. E a dor da separação abala a todos no início. A turma se divide e vai ter que, então, lidar com suas questões individuais. Cebolinha vai para fonoaudióloga melhorar sua linguagem, Magali trabalha a ansiedade e compulsão alimentar numa aula de culinária, Cascão ingressa na natação para cuidar da fobia pela água e Mônica tem que encarar sua raiva sem seu fiel coelho Sansão, além de lidar com um colega na nova escola que é bem maior do que ela.

É sabido que crescer dói. Já nos alertaram os pediatras que essa verdade sobre o desenvolvimento humano fica explícito não só quando os dentes rompem as gengivas para que a criança consiga passar da comida pastosa para sólida, mas quando na fase do estirão do crescimento as articulações podem gritar de dor ou com as incontroláveis lágrimas dos adolescentes ao ver seu corpo se transformar no período da puberdade. Amadurecer não vem sem sofrimento e o filme consegue mostrar isso de forma fluida e leve, mas não sem choro –  que é a forma como a criança expressa o que sente.

A trama mostra não só os conflitos inerentes aos relacionamentos de crianças com seus pares e em seus espaços, como a escola, mas que os pais, podem muitas vezes intervir (mesmo com a melhor das intenções, claro) de forma errada no relacionamento dos pequenos, julgando o outro sem o exercício da empatia. Já as crianças com sua própria poesia e olhar inclusivo para a dor do outro podem curar tudo- como já tinha sido mostrado em Laços, primeiro filme da Turma.

O longa evidencia que com o tempo as coisas vão se ajustando e que as crianças não só resistem como podem ensinar muitas coisas aos adultos. Lições agrada à todas as gerações e é emotivo no ponto certo. Traz alusões a outras obras desde Shakespeare até Spielberg e abre importantes debates sobre a diversidade, o desenvolvimento de crianças e o tempo de cada um, além de, claro, sobre a parentalidade a função da escola na mediação dos conflitos.  A turma cresceu, sofreu e assim amadureceu. Avançaram em suas questões e manias de crianças, entenderam a responsabilidade de seus atos e com isso foram capazes de conquistar não só novos amigos como o telespectador. Lições de filhos para pais. Imperdível nessas férias. Fica a dica!